Muitos de nós gostamos de escrever e
falar em fóruns próprios para o efeito sobre temas variados, é uma forma
de expressarmos os nossos pensamentos, comunicarmos as nossas emoções,
exteriorizarmos os nossos medos e aspirações.
Procuramos assim exercer a nossa
liberdade de expressão, direito consagrado no artigo 19 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948, da qual somos todos os Angolanos
signatários. È um direito que nos possibilita exteriorizar livremente
ideias e pensamentos, sem incorrer na prática de qualquer crime que
possa pôr em causa o direito do outro, tendo em atenção que liberdade de
expressão não pressupõe o direito á difamação ou lesão do bom nome de
outrem, a injúria e a difamação são considerados crimes.
A minha reflexão sobre os meandros da
liberdade de expressão vem a propósito de ter lido em tempos dois textos
da autoria de duas conceituadas figuras académicas e políticas do nosso
País. Foram duas cartas em que um responde ao outro. O primeiro
académico que também é um Director Nacional, falava sobre a necessidade
dos angolanos encontrarem meios de superarem os muitos problemas básicos
que enfrenta o nosso País que é rico e independente a mais de 10 anos, e
o outro académico que também é Deputado a Assembleia Nacional
respondeu-lhe de modos a subentender-se que o primeiro académico não
devia falar sobre o assunto por ser funcionário do estado. Fiquei
desiludida com os argumentos do segundo académico, porque o seu discurso
foi meramente político, não entendeu que podemos ser parte de
determinado partido e ter consciência de cidadania.
O académico e deputado, entrelinhas
pediu ao outro que se calasse e não falasse dos feitos, defeitos e
efeitos da governação de quem lhe dá de comer porque lhe dá de comer.
Desiludiu-me porque esqueceu que a liberdade de expressão, sobretudo
sobre questões públicas é o suporte vital de qualquer democracia e as
democracias têm muitas vozes exprimindo ideias e opiniões diferentes e
até contrárias. O primeiro académico como cidadão está no seu direito de
exprimir o que lhe vai na alma, até porque ele não acusou ninguém de
nada, ele manifestou o seu descontentamento face aquilo que está bem a
vista de todos. O académico dois, no seu discurso altamente
partidarizado, acha que pode-se olhar e sentir, mas deve-se calar e
consentir, não se pode falar sob pena de que quem falar abertamente
sobre o seu descontentamento é vira-casacas ou não merece o tacho? Quem
fala sobre o que vê e sente merece castigo? O cargo anula o dever de
cidadania? Anula o dever de debater os assuntos candentes? A minha
resposta a todas estas perguntas é não.
Estamos de tal maneira que se manifestas
a tua opinião sincera, se falas a verdade sobre algo, já és conotado
como sendo da oposição ao partido a ou b. Parece que aqui não se pode
ser honesto, não se pode falar a verdade, nem se pode ser justo, porque
falar a verdade das coisas é ser justo e honesto, em função da sua
consciência.
Os males da nossa terra estão a
tornar-nos pessoas estranhas a nós mesmos. Um bom cidadão não deve ser
indiferente aos males que pairam na sua sociedade e deve falar deles
independentemente de quem lhe paga o salário. Um bom cidadão não é
bajulador, não é lambe-botas, não mascara a verdade que está aos olhos
de todos com desculpas que já não fazem sentido, com argumentos que já
prescreveram, um bom cidadão enfrenta a realidade e procura falar a
verdade, sem acusar os presumíveis culpados do costume mas promovendo o
intercâmbio de ideias, favorecendo com o seu diálogo a abertura ao
debate.
A democracia depende de uma sociedade
civil educada e bem informada cujo acesso à informação lhe permite
participar tão plenamente quanto possível na vida pública da sua
sociedade. A democracia depende de acesso mais amplo possível a ideias,
dados e opiniões não sujeitos a censura.
O princípio democrático tem um elemento
indissociável que é a liberdade de expressão, em contraposição a esse
elemento, existe a censura que representa a supressão do Estado
democrático. A divergência de ideias e o direito de expressar opiniões
não podem ser restringidos para que a verdadeira democracia possa ser
vivenciada.
Promover o debate é um dever cidadão.
Gostei das frases do académico e também
Director Nacional que passo a citar “Falemos com realismo, como
angolanos que querem bem o seu país. Pessoalmente acho que muita coisa
está realmente a ser feita mas também acho que mais ainda poderia ser
feito e porventura com menos custos e com menos gente a enriquecer sem
qualquer mérito.
Olhemos para o futuro. Olhemos para a
realidade e quando falamos aqui não estamos a descaminhar a juventude
como me acusas. Queremos, isso sim que se faça uma reflexão sobre nós,
angolanos, sem camisolas, olhando para o presente e para o futuro.
Sinceramente, não podemos fazer melhor?” fim de citação. Gostei,
aplausos para ti Sr Director Nacional.
Temos de conviver com a diferença de opinião, esta deve existir numa sociedade que se diz democrática como a nossa.
Muitos de nós deixaram de ser patriotas,
uns tornaram-se como que apátridas, não estão nem aí para o estado do
País, só estão, outros, aderiram ao partidarismo em detrimento do
patriotismo que favorece a todos os angolanos, preferiram o partidarismo
que favorece só alguns, os tais ricos que não vão ao hospital público
nem velam como deve ser para que este seja um local que possa ser
frequentado por todas as classes de angolanos, não vão lá porque sabem
que lá cheira mal, os médicos são duvidosos, as condições no geral
deixam a desejar. Estes vão tratar-se no estrangeiro e têm lá os filhos
nas boas escolas.
Ainda não temos paz de espírito.
Agradeço o que tenho todos os dias, agradeço a quem cumprindo com o seu
dever me proporciona a paz, ausência de guerra, mas afirmo que o que
vejo, todos vêem, e este facto tira-me a paz de espírito, gigante com
pés de barro, barrilzinho de pólvora. Todos nós queremos o bem do nosso
povo, de todo o povo. Não podemos falar sobre isso?
via: OPaís/
Neusa Sampaio